Lula: “Estamos prontos para fazer a máquina do Estado voltar a funcionar”

Em café da manhã com jornalistas da mídia independente e alternativa, presidente diz que país está preparado para retomar obras e alcançar o crescimento econômico com protagonismo internacional, sustentabilidade e inclusão social Fotos: Ricardo Stuckert / PR

Passado o momento de tomar as rédeas da gestão, montar equipes e traçar estratégias ao mesmo tempo em que lidava com uma tentativa de golpe contra a democracia, o Governo Federal está pronto para fazer a máquina do Estado voltar a funcionar. Um retorno com foco no crescimento econômico induzido por investimentos públicos, voltado para gerar empregos e com perspectiva de inclusão social, protagonismo internacional e atenção às questões ambientais.

Essa foi a tônica da mensagem passada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva num café da manhã em formato de entrevista coletiva com 41 jornalistas da imprensa independente e alternativa no Palácio do Planalto, em Brasília (DF) nesta terça (7/2).

“Nós temos mais de 14 mil obras paralisadas, na educação quatro mil. Muitas dessas obras tínhamos começado no PAC em 2006, 2007, 2008, 2009 e 2010. Isso significa que temos uma posição, eu diria, quase que confortável, porque há uma prateleira de obras com decisão favorável do meio ambiente, engenharia aprovada. É tocar o barco para terminar o mais rápido possível”, disse o presidente.

O investimento público, segundo Lula, vai ser essencial para o Estado cumprir o papel de indutor do crescimento econômico. “As pessoas têm de confiar que as coisas que estamos anunciando vão acontecer. Se o Governo não der o pontapé inicial e achar que por si só a iniciativa privada vai dar, isso não vai acontecer”, argumentou.

No âmbito interno, o presidente enfatiza a necessidade de parcerias com bancos de vocação para investimentos conectados ao desenvolvimento social e econômico do país e de regiões estratégicas, casos do BNDES, da CAIXA, do Banco do Brasil, do BASA e do BNP.

“Precisamos começar a financiar os setores que queremos privilegiar. São micro, pequenos e médios empreendedores, pequenas e médias empresas, cooperativas. É assim que a gente vai dar o primeiro salto na nossa roda gigante para começar a fazer o que precisamos. Acredito que a economia brasileira vai crescer mais que as projeções que estão sendo feitas”, disse.

PROTAGONISMO INTERNACIONAL – Já no cenário externo, o presidente tem se dedicado a retomar o protagonismo brasileiro no tabuleiro internacional, tanto com foco nos vizinhos sul-americanos e latinos, quanto com as principais potências econômicas. Na quinta-feira, 9/02, ele embarca para os Estados Unidos e terá agenda com o presidente norte-americano, Joe Biden.

“São três palavras mágicas para governar um país: credibilidade, estabilidade e previsibilidade. Fizemos uma série de contatos na América Latina, com a participação na Celac. Tivemos a vinda do Olaf Scholz, chanceler da Alemanha. A minha ida aos Estados Unidos agora. Em março a minha ida à China. É um conjunto de países que queremos convidar para serem parceiros nos investimentos que precisamos fazer no Brasil”, disse.

Ainda no cenário internacional, Lula pretende posicionar o país numa posição de destaque nas discussões sobre mudanças climáticas, ao mesmo tempo em que vai cobrar da comunidade internacional posturas mais enfáticas no cumprimento de acordos já firmados.  “É preciso um mecanismo multilateral com mais força, com mais representatividade”.

Outro ponto citado pelo presidente é a possibilidade de criação de um fórum internacional para discutir a paz mundial com nações que não estejam diretamente conectadas a conflitos atuais, como o da Rússia com a Ucrânia. Ele citou países como Brasil, Índia, México e China como potenciais protagonistas.

“Quem pode negociar são os países não envolvidos. Somente assim é capaz de a gente encontrar paz. O Brasil não participará de ataques a ninguém. Não temos contencioso e não precisamos”.

INCLUSÃO SOCIAL – Diante do quadro de 33 milhões de brasileiros em situação severa de insegurança alimentar, o presidente aposta na remodelação do Bolsa Família, programa de transferência de renda do Governo Federal, atrelado a outras políticas, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) de pequenos produtores rurais, a recomposição da qualidade da merenda escolar e o incentivo a que mais estudantes tenham acesso ao ensino integral.

“Quando criamos o Bolsa Família em 2003, houve vários artigos dizendo que deveríamos estar pensando em fazer estrada, em fazer ponte. Era assim que pensavam. Até reconhecerem que o Bolsa Família era o programa de transferência de renda mais relevante do mundo e copiado por muitos países”, afirmou Lula. “Ele agora vai voltar mais aperfeiçoado ainda porque vai ter uma assistência de 150 reais para cada criança de até seis anos de idade”.

Para o presidente, o investimento na redução das desigualdades sociais deve ser a principal diretriz do Governo Federal, e isso não significa abrir mão de responsabilidade fiscal e financeira. “Eu não abro mão daquilo que eu acredito, daquilo para o qual fui eleito. Eu fui eleito para melhorar a vida do povo trabalhador, para criar mais empregos, para tentar acabar com a fome, para melhorar o ensino fundamental, para fazer escolas de tempo integral. E eu não quero que ninguém diga que isso é gasto. Isso é investimento”.

CRISE HUMANITÁRIA – Lula citou o episódio da crise humanitária com o Povo Indígena Yanomami como indicador de que as ações do Governo Federal voltadas para o respeito aos povos originários e para o trato com o meio ambiente serão de fato uma tônica.

“Há uma crença de que se sempre se faz pirotecnia com a questão dos indígenas e depois de um tempo para. Quero dizer a vocês que dessa vez será sério. Não vamos permitir garimpo em terras indígenas em hipótese alguma”.

O processo de retirada dos garimpeiros já teve início e, segundo Lula, haverá responsabilização dos responsáveis. “O mais culpado é quem financia isso, é quem compra a draga, quem manda o helicóptero, manda o avião, quem recebe o ouro garimpado”, explicou.

A mesma postura integrada do governo vai valer para outros temas, como a questão dos desmatamentos, das queimadas, das madeireiras. “Vamos reestruturar tudo o que existe de controle das nossas florestas e das terras indígenas”, ressaltou o presidente, que também vai envolver na discussão governadores, prefeitos e entidades e movimentos sociais, na perspectiva de criar uma nova dinâmica com mais possibilidades de resultados positivos.