Os gestores que passaram por Mossoró os últimos anos foram incapazes de pensar em Mossoró. Como esta cidade iria subsistir nas mesmas condições sem uma de suas maiores riquezas? Sabemos que o município se orgulhar por ser o maior produtor de petróleo em terra no Brasil, razão pela qual os cofres públicos recebiam recursos a granel e o progresso era incontestável. Empresas estrangeiras, grandes profissionais do setor, tudo convergia para fazer crescer esta cidade. As universidades públicas e privadas apostavam em cursos destinados a fortalecer o setor e muitos jovens enveredaram por este caminho. Realmente, o mossoroense tinha motivo de orgulho.
Da mesma forma que foram incapazes de pensar no futuro desta cidade em ascensão, os gestores se tornaram perdulários. Gastavam, gastavam, gastavam…Afinal, o dinheiro não acaba. E os gastos se concretizavam de duas maneiras: na construção de praças recheadas de penduricalhos e em festas gigantescas sob o pretexto de atração turística.
O escoamento de recursos era imenso e faltou perspicácia. Não sabemos se por deslumbre ou por intenção deliberada. Logicamente, o petróleo é produto finito e suscetível ainda às intempéries do mercado internacional e das lógicas energéticas. Um dia, a vida abundante da cigarra iria se transformar em tenebroso inverno. Não aprendemos as lições com a formiga da fábula.
O problema é que os gestores sabiam que o petróleo na cidade tinha prazo de validade. E tomaram ciência em tempo hábil de pensar numa Mossoró preparada para exercer outros protagonismos. Não o fizeram. Os gestores, muitos deles ainda na peleja por reeleições e manutenção do poder, pagaram para ver. No entanto, quem pagou a conta foi o mossoroense.
Aliás, o petróleo na cidade era tão farto que nem mesmo os mossoroenses acreditavam no esgotamento. Falar do fim da Petrobras por aqui sempre soou como exagero, conversa de pessimista. A fartura também gera momentos de insensatez.
Escrevi alguns artigos neste espaço sobre isso, tanto sobre o legado deixado pela Petrobras, quanto anunciando o desmonte que culmina agora com o seu momento mais dramático: o fim do ciclo da Petrobras no RN. Pode acreditar: não se trata de exagero.
Como noticiado nesta segunda-feira (24) pelo Blog do Barreto, a Petrobras iniciou a campanha para vender a totalidade de suas participações em um conjunto de vinte e seis concessões de campos de produção terrestres e de águas rasas, localizadas na Bacia Potiguar. Ou seja, vender a totalidade significa “puxar o carro”, “dar no pé”, “por a viola no saco”, “capar o gato”…
Encerrar as atividades na bacia potiguar não atinge tão somente Mossoró. Segundo a própria empresa, a área compreende três subpolos (Canto do Amaro, Alto do Rodrigues e Ubarana), totalizando 26 concessões de produção, 23 terrestres e 3 marítimas, “além de incluir acesso à infraestrutura de processamento, refino, logística, armazenamento, transporte e escoamento de petróleo e gás natural. As concessões do subpolo Ubarana estão localizadas em águas rasas, entre 10 e 22 km da costa do município de Guamaré-RN.
As demais concessões dos subpolos Canto do Amaro e Alto do Rodrigues são terrestres”. Em outras palavras, a Petrobras não tem mais interesse em atuar no RN e a situação se torna mais grave do que parece.
No entanto, em relação a Mossoró, a preocupação não se dá pelo êxodo da Petrobras em si. Como já relatado, isso aconteceria a qualquer momento. O debate gira em torno do que foi feito concretamente enquanto tanta riqueza passou pelo Palácio da Resistência.
O que os mossoroenses, efetivamente, garantiram como segurança e manutenção de sua qualidade de vida após ver a fonte de recursos secar? Os shows grandiosos a preços impressionantes, a propaganda incontida da ideia delirante de Mossoró Capital da Cultura, dos gastos ufanistas na tal Mossoró do Futuro (…) foram suficientes? Bastou? Quem realmente ganhou com a riqueza da Petrobras, quem lucrou enquanto esta sociedade agora padece nesta Gotham City?