Do Blog do William Robson: Chega ao fim o ciclo do petróleo em Mossoró: Petrobras dá adeus

O problema é que os gestores sabiam que tinha prazo de validade. E tomaram ciência em tempo hábil para pensar numa Mossoró preparada para exercer outros protagonismos. Não o fizeram

Os gestores que passaram por Mossoró os últimos anos foram incapazes de pensar em Mossoró. Como esta cidade iria subsistir nas mesmas condições sem uma de suas maiores riquezas? Sabemos que o município se orgulhar por ser o maior produtor de petróleo em terra no Brasil, razão pela qual os cofres públicos recebiam recursos a granel e o progresso era incontestável. Empresas estrangeiras, grandes profissionais do setor, tudo convergia para fazer crescer esta cidade. As universidades públicas e privadas apostavam em cursos destinados a fortalecer o setor e muitos jovens enveredaram por este caminho. Realmente, o mossoroense tinha motivo de orgulho.

Da mesma forma que foram incapazes de pensar no futuro desta cidade em ascensão, os gestores se tornaram perdulários. Gastavam, gastavam, gastavam…Afinal, o dinheiro não acaba. E os gastos se concretizavam de duas maneiras: na construção de praças recheadas de penduricalhos e em festas gigantescas sob o pretexto de atração turística.

O escoamento de recursos era imenso e faltou perspicácia. Não sabemos se por deslumbre ou por intenção deliberada. Logicamente, o petróleo é produto finito e suscetível ainda às intempéries do mercado internacional e das lógicas energéticas. Um dia, a vida abundante da cigarra iria se transformar em tenebroso inverno. Não aprendemos as lições com a formiga da fábula.

O problema é que os gestores sabiam que o petróleo na cidade tinha prazo de validade. E tomaram ciência em tempo hábil de pensar numa Mossoró preparada para exercer outros protagonismos. Não o fizeram. Os gestores, muitos deles ainda na peleja por reeleições e manutenção do poder, pagaram para ver. No entanto, quem pagou a conta foi o mossoroense.

Aliás, o petróleo na cidade era tão farto que nem mesmo os mossoroenses acreditavam no esgotamento. Falar do fim da Petrobras por aqui sempre soou como exagero, conversa de pessimista. A fartura também gera momentos de insensatez.

Escrevi alguns artigos neste espaço sobre isso, tanto sobre o legado deixado pela Petrobras, quanto anunciando o desmonte que culmina agora com o seu momento mais dramático: o fim do ciclo da Petrobras no RN. Pode acreditar: não se trata de exagero.

Como noticiado nesta segunda-feira (24) pelo Blog do Barreto, a Petrobras iniciou a campanha para vender a totalidade de suas participações em um conjunto de vinte e seis concessões de campos de produção terrestres e de águas rasas, localizadas na Bacia Potiguar. Ou seja, vender a totalidade significa “puxar o carro”, “dar no pé”, “por a viola no saco”, “capar o gato”…

Encerrar as atividades na bacia potiguar não atinge tão somente Mossoró. Segundo a própria empresa, a área compreende três subpolos (Canto do Amaro, Alto do Rodrigues e Ubarana), totalizando 26 concessões de produção, 23 terrestres e 3 marítimas, “além de incluir acesso à infraestrutura de processamento, refino, logística, armazenamento, transporte e escoamento de petróleo e gás natural. As concessões do subpolo Ubarana estão localizadas em águas rasas, entre 10 e 22 km da costa do município de Guamaré-RN.

As demais concessões dos subpolos Canto do Amaro e Alto do Rodrigues são terrestres”. Em outras palavras, a Petrobras não tem mais interesse em atuar no RN e a situação se torna mais grave do que parece.

No entanto, em relação a Mossoró, a preocupação não se dá pelo êxodo da Petrobras em si. Como já relatado, isso aconteceria a qualquer momento. O debate gira em torno do que foi feito concretamente enquanto tanta riqueza passou pelo Palácio da Resistência.

O que os mossoroenses, efetivamente, garantiram como segurança e manutenção de sua qualidade de vida após ver a fonte de recursos secar? Os shows grandiosos a preços impressionantes, a propaganda incontida da ideia delirante de Mossoró Capital da Cultura, dos gastos ufanistas na tal Mossoró do Futuro (…) foram suficientes? Bastou? Quem realmente ganhou com a riqueza da Petrobras, quem lucrou enquanto esta sociedade agora padece nesta Gotham City?

 

William Robson Cordeiro, é doutor em Jornalismo pela UFSC